terça-feira, 22 de junho de 2010

Lições sobre a vida e sobre a morte

O evangelho de hoje, Lucas 9,18-24, descreve um momento decisivo da vida de Jesus. Até então tinha anunciado a boa notícia do Reino, tinha operado prodígios, atraído sobre si muita simpatia, mas também antipatias. Não podia contentar a todos! Tinha reunido os primeiros discípulos, e escolhido doze apóstolos. A partir daquele momento dedicará a máxima atenção a seus amigos, instruindo-os com cuidado. O evangelho de hoje é uma lição de Jesus.

Jesus desenvolve a lição em três pontos. Primeiramente faz uma sondagem: “Quem diz o povo que eu sou?” E estende a mesma aos apóstolos. Depois, Jesus revela sua verdadeira natureza de Filho de Deus, o sentido de sua missão e do seu destino. Em terceiro lugar, explica em que consiste ser discípulo do Senhor, que coisa comporta para os apóstolos colocar-se em seu seguimento.

A sondagem entre a gente trouxe respostas disparatadas. A fantasia popular é abundante. A sondagem aos apóstolos: “E vós, quem dizeis que sou?” Pedro está pronto a responder: “Tu és o Cristo de Deus”. Isto é, o consagrado, aquele que Deus enviou, a quem confiou uma missão. Essa persuasão estava já bem amadurecida em Pedro, e Jesus a confirma.

Os apóstolos não tinham ainda idéias exatas sobre o Messias. E Jesus começou a esclarecer, a corrigir, a precisar. Diz coisas surpreendentes não agradáveis aos apóstolos: O Filho do homem “deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da lei, ser morto e ressuscitar no terceiro dia”. Perfil do Messias inédito e desconcertante: tratar-se-á sempre de um vencedor: Jesus de fato assegura: “depois de três dias ressuscitará”. Por enquanto diz de ser um chefe destinado à rejeição, ao abandono e à morte.

Um caminho insólito para guiar sequazes à vitória. Os apóstolos deveriam pensar: se é assim o destino de Jesus, que coisa sucederá a nós?

Na terceira parte da lição Jesus dá a resposta: “Se alguém me quer seguir...”. Seguidor é quem segue, quem vai atrás de outro. Jesus fala exatamente deles. E lhes propõe um itinerário a percorrer, difícil como o seu: “Renegue-se a si mesmo, tome a sua cruz cada dia”.

Renegar a si mesmo, em sentido absoluto significaria anular-se, morrer. Mas em sentido moral: existem tantas coisas não boas que o homem deseja, e a elas pode e deve dizer não. Não às tendências loucas do coração humano, não aos empurrões para o mal, não ao egoísmo, sensualidade, sobreposição aos outros. Tomar a própria cruz. Parece inevitável a qualquer um. Quem entende viver bem, de modo polido, coerente com as próprias idéias e a própria fé, fatalmente encontra em seu caminho tantas cruzes e dificuldades. Exatamente como aconteceu ao Senhor. E isso cada dia. Sabemos que é difícil perseverar, a tentação de fraquejar tudo é um estado de alma que experimentamos também nós empenhados em viver como verdadeiros cristãos. O Senhor não deseja cristão de tempo parcial, mas de tempo pleno e existência plena.

Portanto, seguir a Jesus significa para os seus discípulos colocar em sua previsão a cruz. Pagar pessoalmente. Ao fim, pagar com a vida. Esta é a surpreendente lição de Jesus.

Os apóstolos reagiram não tanto bem. Em outra circunstância, Pedro chegou a reprovar abertamente a Jesus, porque continuava a falar da própria morte. Não devia acontecer, não era discurso a se fazer.

Os apóstolos haviam compreendido ainda pouco o seu Mestre. Mas, coma ressurreição do Senhor, então finalmente abriram os olhos. Compreenderam o sentido das palavras conclusivas da sua lição: “Quem quiser salvar a própria vida, perdê-la-á”.

Se pensarmos bem, quem jamais ressuscitou para evitar a morte física? Hoje, fala-se de hibernação, de terapias intensivas; a fantasia cientifica inventa fabulas extravagantes. Sabemos que a medicina consegue vencer alguma batalha mas no fim perde a guerra. A morte pode ao máximo ser retardada, mas não evitada. Jesus porém tinha concluído com a mensagem da esperança: “Quem perder a própria vida por mim, salva-la-á”.

Somente diante da ressurreição do Senhor os apóstolos compreenderam tudo até o fundo.

Dom Geraldo Majella Agnelo

texto retirado do site da CNBB : www.cnbb.com.br

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